Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-diretor de Operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Djairlon Henrique Moura, confirmou que a corporação realizou blitzes em ônibus de eleitores no Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022. 

Apesar da conduta, Moura negou que a operação tivesse qualquer viés político.

O depoimento aconteceu nesta terça-feira (27) como parte da defesa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, em uma ação penal que investiga a suposta trama golpista no governo de Jair Bolsonaro.

Questionado pelo relator da ação, ministro Alexandre de Moraes, Moura itiu que a PRF intensificou a fiscalização do transporte de eleitores no fim de semana do segundo turno. 

No entanto, na noite anterior à votação, Moraes havia determinado a interrupção dessas fiscalizações devido a suspeitas de atuação política da PRF, com relatos de retenção de eleitores do então candidato Lula (PT). 

Apesar da ordem judicial, as blitzes continuaram. Moura justificou o descumprimento da ordem afirmando que a PRF interpretou a decisão como uma proibição à fiscalização específica do transporte de ageiros, mas não às fiscalizações relacionadas a violações do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). 

Ele alegou que a operação já estava programada e que o objetivo era garantir o transporte regular de eleitores, com respaldo em um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU).

“Em mais de 60% dos veículos fiscalizados, não se levou mais de 15 minutos para que os veículos fossem liberados”, disse.

Foto: Divulgação/PRF

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O ex-diretor também confirmou a realização de reuniões no Ministério da Justiça, na semana anterior ao segundo turno, com a presença de Anderson Torres. 

Nessas reuniões, houve um “pedido do então ministro para que as instituições colocassem o máximo de efetivo nas ruas”, mas Moura negou qualquer “tipo de direcionamento [político]” nesses encontros.

Além disso, Moura confirmou que, em julho de 2022, o Ministério da Justiça determinou a realização de uma operação pré-eleitoral focada em ônibus que saíam de São Paulo e da região Centro-Oeste com destino ao Nordeste, com suspeitas de transporte de eleitores e recursos financeiros sob investigação da Polícia Federal (PF).

 À época, as pesquisas apontavam a liderança de Lula no Nordeste. Mesmo assim, Moura defendeu que esse tipo de fiscalização é “comum” antes de qualquer eleição. 

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Na última semana, O ex-coordenador de inteligência da corporação, Adiel Pereira Alcântara, confirmou que houve ações de “policiamento direcionado” com o objetivo de impedir a agem de eleitores durante o segundo turno das eleições de 2022.

Segundo o ex-coordenador, ordens para as blitzes partiram de ex-diretores da PRF, que cobravam a parada de ônibus por parte dos policiais. “Estavam criando uma polícia de governo e não de Estado”, afirmou.