Entre os becos da zona centro-sul de Manaus, em meio ao concreto da urbanização e às marcas do tempo, repousa silencioso um espaço que já foi o principal ponto de encontro esportivo da capital amazonense: o Parque Amazonense.

Localizado no bairro Nossa Senhora das Graças, o antigo estádio guarda memórias de uma era dourada do esporte local, resistindo hoje apenas em ruínas e nas lembranças dos que o conheceram.

Das corridas de cavalo ao futebol r5g4c

Antes de ser o berço do futebol amazonense, o terreno do Parque Amazonense era palco de outra paixão: o turfe.

Atrás do Reservatório do Mocó, na antiga Vila Municipal, o espaço era destinado a corridas de cavalo e fazia parte de uma área ainda maior, inicialmente pertencente a um comerciante português e depois reado à maçonaria.

Foi em 1906, durante o governo de Constantino Nery e a gestão do prefeito Adolpho Lisboa, que o espaço foi aberto à população.

O hipódromo funcionou até 1912, retornando em 1918 — justamente quando o futebol, trazido pelos ingleses, começava a se popularizar no país.

Ainda em 1918, o Dispensário Maçônico construiu um estádio no local e inaugurou oficialmente o campo com uma partida histórica entre Rio Negro e Nacional, que terminou em 1 a 1. Nascia assim o primeiro estádio do Amazonas a sediar jogos do Campeonato Amazonense.

Os tempos áureos do Parque Amazonense na3v

Parque Amazonense em 1959 – Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Durante décadas, o Parque Amazonense foi o centro do futebol manauara e da vida social da cidade.

O estádio era um “point” das famílias, onde torcedores lotavam as arquibancadas em clássicos de domingo.

Nomes como Walter Rayol, o famoso “Zé do Parque”, e seu Edmilson da Costa Barreiros, o barbeiro mais antigo em atividade em Manaus, relembram com saudade os tempos em que os jogos do Fast, Rio Negro e Nacional mobilizavam multidões.

As arquibancadas de ferro, depois complementadas por estruturas de concreto, davam lugar a uma atmosfera vibrante, que unia gerações.

Ao longo do tempo, o Parque ou por diferentes mãos. Em 1946, foi vendido à Federação Amazonense de Desportos Atléticos (Fada), e nos anos 1960 foi istrado pelos irmãos Artur e Amadeu Teixeira, do América. Melhorias foram feitas, mas o estádio também enfrentou tragédias.

O acidente de 1967 4yk6z

Um dos episódios mais tristes da história do patrimônio ocorreu em 21 de maio de 1967. Após um jogo entre Rio Negro e São Raimundo, a arela de madeira que ligava partes da arquibancada cedeu, fazendo dezenas de pessoas caírem. Houve feridos e, dias depois, uma vítima faleceu em decorrência do acidente.

Sem recursos, os irmãos Teixeira devolveram o estádio à maçonaria. O espaço foi então reado para uma empresa da Zona Franca e, posteriormente, vendido a um grupo da construção civil, com planos para erguer um conjunto habitacional. Foi o início do fim.

A última partida e a destruição do patrimônio 3s2c5g

O último jogo oficial disputado no Parque Amazonense foi em 8 de julho de 1973, entre Rio Negro e Rodoviária.

Após esse dia, os portões de ferro foram fechados, encerrando uma era. A prefeitura de Manaus, durante a gestão de Jorge Teixeira, ainda tentou arrendar o local, mas sem sucesso.

O novo proprietário iniciou a demolição das arquibancadas, que tinham cobertura de telhas de barro de origem portuguesa.

A memória física do estádio começou a desaparecer sob os escombros da especulação imobiliária.

Última partida disputada no estádio, entre Rio Negro e Rodoviária – Foto: Jornal do Commercio

O que restou: ruínas e histórias 2u1c2q

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Hoje, quem a pela antiga Rua Belém encontra um cenário melancólico: muros quebrados, portões enferrujados, mato alto e entulho.

A fachada com o busto de cavalo, os portões de ferro e uma viga de sustentação são as únicas peças que ainda resistem ao tempo. O “campo da linha circular” virou ponto de abandono.

O que resta do Parque Amazonense é um espaço degradado, esquecido pelo poder público e pela maioria da população.

O local, que já foi símbolo do esporte e da cultura manauara, hoje é apenas um terreno abandonado, tomado pelo mato e pela indiferença.