O humorista Leo Lins divulgou um comunicado oficial na noite desta quinta-feira (5), após ter sido condenado a mais de oito anos de prisão e multa de quase R$ 2 milhões por conta de piadas consideradas ofensivas contra minorias.

No vídeo publicado, o artista defendeu sua atuação como comediante e criticou a decisão judicial.

Gravado na sala de casa, com duração de pouco mais de 12 minutos, Leo Lins falou como “Leonardo de Lima Borges Lins” e destacou que o conteúdo de suas apresentações se trata de ficção.

“Esse vídeo não é de piada. Eu tô em casa com os meus gatos. Aqui é a pessoa Leonardo e não o comediante Leo Lins. Uma persona cômica criada ao longo de anos que faz piadas ácidas, críticas e que sabe que nem todas as piadas são para todas as pessoas”, afirmou.

O humorista explicou que seu trabalho é uma forma de arte, construída com figuras de linguagem como hipérboles e metáforas, e que, por isso, não poderia ser interpretada literalmente.

‘Perderam a capacidade de interpretar o óbvio’ 6w5x2d

Em sua defesa, Leo argumentou que a juíza responsável pela sentença interpretou equivocadamente os conteúdos apresentados em seus shows.

“Talvez nem todos saibam, mas o humorista num palco interpreta um personagem, uma persona cômica. Na construção do texto nós utilizamos figuras de linguagem, hipérbole, metáfora e ironia numa licença estética e, portanto, uma análise literal desse texto não se aplica na estrutura do cômico”, declarou.

Ele reforçou que suas apresentações são obras teatrais e, portanto, devem ser compreendidas como ficção.

“Show de humor, apresentação de stand-up comedy, obra teatral, ficção… você está entrando em um teatro, está em um canal do humorista Leo Lins, mas parece que as pessoas perderam a capacidade de interpretar o óbvio”, criticou.

Leo Lins se apresentando em stand-up – Foto: Reprodução/X

Leo Lins fala sobre censura 6b352i

Em tom crítico, Leo Lins classificou o momento atual como uma crise de racionalidade e acusou a sociedade de realizar julgamentos movidos apenas por emoções.

“Estamos vivendo uma das maiores epidemias dos últimos tempos, a da cegueira racional. Os julgamentos são feitos puramente baseados em emoção e ninguém quer mais ouvir o próximo, quer no máximo convencê-lo da sua própria verdade. Isso pode trazer consequência para qualquer pessoa, mas no caso de um juiz, de uma juíza, pode trazer consequências gravíssimas”, completou.

O humorista também comentou sobre o debate que se instaurou na internet a respeito de censura e liberdade de expressão. Para ele, a condenação é um reflexo de uma sociedade “infantiloide”.

“Concordar com sentenças como essa é um atestado que nós somos adultos infantiloides sem a menor capacidade de discernir o que é bom ou ruim para nós e precisamos de um Estado falando do que você pode rir, o que você pode ouvir, o que você vai poder comer, o que você pode falar e até um dia o que você pode pensar”, disse.

Por fim, Leo Lins encerrou sua fala com um tom otimista: “Eu tenho fé que no fim vai dar tudo certo, até porque se rir virou crime, o silêncio virou regra”.

Assista ao pronunciamento completo: